TEXTOS PARA REFLEXÃO
 


      • Introdução: Diálogo, a partir de uma visão religiosa Católica
      Introdução a uma leitura ORANTE de alguns textos a respeito da prática do DIÁLOGO. Para viver a dimensão missionária e unitiva da Igreja a prática de DIÁLOGO é indispensável. Uma leitura assim é muito útil antes de assembléias pastorais ou missionários. Está claro que esta leitura orante como qualquer outra oração tem que começar com um ato de fé. Em Deus, nosso Pai. 

      Vale a pena a gente parar e se lembrar que somos filhos bem queridos de Deus Pai. Unidos a Cristo somos guiados pelo o Espirito de Deus a procurar e também a realizar, na medida dos possível, o Reinos de Deus na justiça, na misericórdia e no amor. 

      Vale a pena lembrar que esta certeza de ser amado por Deus nasceu de um DIÁLOGO que Deus mesmo começou e que se dirige a todos nós. "No passado Ele nos falou pelos Profetas, nestes últimos tempos Ele nos falou por seu querido Filho Jesus Cristo" (Heb.,1,1-2.). 

      DIÁLOGO como prática pastoral sempre existiu, na nossa Igreja, mas muitas vezes somente na surdina. Os sonhos de poder, riqeza e o medo de perder influência fizeram na igreja surgir uma espécie de doutrina de SEGURANÇA NACIONAL que imobilizou a Igreja durante séculos (liturgia) e a ligou a práticas autoritárias, não dialogais, (inquisição, excomunhões, banimentos) que não tem nada a ver com o evangelho de Jesus e que quando muito podiam ser indicados como "prudência carnis". 

      Estes procedimentos prejudicaram bastante a união da Igreja e a vinda do Reino no meio no mundo. 

      Foi o ideal de caridade pastoral do Papa João XXlll e o humanismo cristão do Papa Paulo Vl que fizeram a igreja toda, reunida em Concílio Vaticano ll (1963-1967) reinventar o DIÁLOGO como um novo paradigma de relacionamento em toda a Igreja e em todas as suas atividades. 

      Na história da Igreja feita de crises, tensões e contrariedades, a prática do DIÄLOGO ajuda passar ileso por estas dificuldades e abrir caminhos onde antes não havia. 

      A partir deste estilo dialogal de conviver no tempo do Concílio o ECUMENISMO tomou conta da Igreja toda, a LITURGIA criou um jeito de todos entender e todos participar, a BIBLIA foi colocada na mão de todos que quisessem e a COLEGIALIDADE tornou-se ponto de revisão de todo o mundo ministerial da Igreja. 

      Pelo que foi dito pode parecer que o diálogo é o remédio fácil para todos os males. O contrário é verdade. 

        A prática do diálogo é difícil e exigente. 
        • Diálogo não conhece truques para ganhar ou manobrar pessoas, mas é feita na base da sinceridade e da comunicação real;
        • Diálogo não conhece vencedor nem vencido, pois é só a verdade, a justiça e a misericórdia que devem vencer;
        • Quem quiser dialogar, abdique da mania de ter sempre razão e ficar sempre de cima. Pois quando o EGO se entrega aos seus orgulhos e cobiças, a pessoa perde os estribos e nada de bom mais pode fazer;
        • Quem acreditar na força libertadora do diálogo, não aguarde os outros, mas comece logo, tome a iniciativa, dê confiança, abra o jogo, desfaça obstáculos e se lance junto com os companheiros na procura dos caminhos do Reino;
        • Quando no encontro das pessoas só valem razões de poder, dinheiro e posição, o diálogo se torna relativamente impossível. 
      O próprio Jesus para poder dizer uma palavra que fosse BOA NOVA quis estar no meio de nós sem poder e sem posição. Por isso podia dizer com todo direito: " Aprendei de min porque sou humilde de coração", isto é: sem presunção ou prepotência. 

      A prática do diálogo nunca foi fácil na Igreja, mas é um ideal que vale a pena estar presente em todas as atividades . Ficamos tão acostumados com o regime vertical que não leva em conta a opinião de ninguém, que nos esquecemos dos espaços de diálogo que depois do Concílio e do novo código de direito canônico são direito adquirido do povo de Deus . 

      Existe o direito de REPRESENTAÇÃO de todos os batizados junto a todos as instâncias da Igreja seja no nível de Paróquia seja no nível de Diocese e até de St. Sé. Existem os ministérios leigos. Existem os conselhos e as assembléias em que padres ou leigos podem participar. Promover tudo isto em todos os níveis, e educar para isto, é abrir espaços de diálogo. Descuidar ou não participar ou não ter coragem de falar é desfazer o que foi colocado na prática da Igreja com muita coragem e sacrifício. 

      Tomemos também os cuidados, especialmente nós que somos profissionais de pastoral. Todos sabem que pastoral sem projetos pastorais, sem metas sem prioridades não caminha. Mas, lá vamos nós, cheios de planos e projetos para o povão. Se o encarregado da pastoral, quem quer que seja, não começar a interpor um bom tempo de escuta e avaliação, uma boa dose de paciência, uma profunda caridade pastoral e o próprio DIÁLOGO, não será impossível que tanto o querido povo como também ele mesmo fiquem totalmente frustrados apesar de tanta boa vontade e trabalho. De fato a nossa ação pastoral necessita do tempero de dialogo para ter um êxito razoável. 

      Vamos então fazer nossa leitura ORANTE (meia hora) de alguns textos da nossa tradição a respeito deste assunto para mais tarde PARTILHAR o que encontramos. 

Campina Grande 22 de dezembro de 1998
Pe Cristiano Joosten
Diretor 


      • Textos tirados e adaptados da encíclica Eclesiam Suam do Papa Paulo Vl de 1964.
      A Igreja tem consciência de que o Senhor quer que ela seja evangelizadora, missionária e apostólica. A este interior impulso da caridade, que tende a fazer-se dom exterior, daremos hoje o nome de DIÁLOGO A Igreja deve entrar em diálogo com o mundo em que vive. A Igreja faz-se palavra, a Igreja faz-se mensagem, a Igreja faz-se colóquio. 

      A iniciativa do dialogo vem do Pai que amou primeiro a humanidade e nos mandou por amor seu Filho. O Pai nos falou pelos profetas e na plenitude dos tempos por se Filho Jesus. Cabe a nós continuarmos este diálogo de salvação. Diálogo é diálogo, somente quando nasce do amor 

      O diálogo de salvação não dependia dos méritos dos interlocutores nem do resultado obtido. (Os sãos não precisam de médico) Nosso diálogo deve ser sem limites. 

      O diálogo de salvação não obriga fisicamente; convida, convence por razões sinais e amizade, mas deixa a pessoa livre. Assim também nossa missão, mesmo que o anúncio seja verdade indiscutível e necessária para a salvação, não se apresentará armada de coação externa, mas pelos vias legítimos de educação, persuasão interior, respeitando sempre a liberdade humana 

      O diálogo de salvação ficou ao alcance de todos sem discriminação. Também nosso diálogo deve ser universal, isto é: CATÓLICO , a não ser que do outro lado haja recusa explícita ou clara falta de sinceridade. 

      O diálogo de salvação conhece ordináriamente graus, humildes princípios, e progresso lento. O nosso também conhece as lentidões, as esperas históricas, a maturação psicológica, e sempre muita esperança pela hora de Deus. 

      O diálogo para ser possível supõe nos que o iniciam muitas virtudes: urbanidade, estima, bondade e tratamento simpático. O dialogo exclui: condenações apríorísticos, polêmicas ofensivas e permanentes, e conversas sem fundamento. Para ser proveitoso o diálogo tem transparecer respeito pelo outro na sua liberdade e nas suas convicções. 

      Quem inicia um diálogo tem estar imbuído de um sentimento de estar dentro de uma missão apostólica de grande responsabilidade . Por isso deve o diálogo assim iniciado ter as seguintes qualidades: CLAREZA - por isso devemos estar dispostos a rever nossa maneira de falar para examinar se somos compreensíveis populares e dignos; MANSIDÃO - que convence pela verdade, que desarma pela humildade, que abre novos caminhos pela cardade, pelos bons exemplos, pela paciência e generosidade. FÉ E CONFIANÇA - no interlocutor o que produzirá: amizade, adesão profunda a um bem maior e que exclui qualquer interesse egoista. PRUDÊNCIA PEDAGÓGICA - que sabe interpretar atitudes e comportamentos nossos e de outros para poder remover em tempo empecilhos e obstáculos do caminho ou não comprometer um bem maior. 



      • Texto tirado de Gaudium et Spes n. 516.
      Um diálogo sincero requer, em primeiro lugar, que promovamos no seio da própria Igreja a mútua estima, respeito e concórdia, admitindo toda a diversidade legítima, para que se estabeleça um diálogo cada vez mais frutífero entre todos os que constituem o único Povo de Deus, sejam os pastores, sejam os demais cristãos. 

      O que une os fieis é com efeito muito mais forte do que aquilo que os separa . Nas coisas necessárias reine a unidade, nas duvidosas a liberdade e em tudo a caridade.